Cidade Milagre

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1946

CIDADE MILAGRE

Por muitos anos Dracena foi cognominada Cidade Milagre e fazia jus ao cognome. Quem aqui chegava encontrava uma cidade limpa, organizada, acolhedora que encantava os visitantes. Praças bem cuidadas, ruas e avenidas limpas demonstravam que a administração municipal era ativa e zelava com competência e satisfação pela aparência agradável e bem cuidada da cidade.
Como agora constatamos, foi a época da Cidade Milagre: milagre de limpeza, milagre de progresso, milagre de competência, milagre de dedicação. Hoje vemos que essa fase passou. Parece que entramos na época do desmanche. O que a cidade apresentava como marco positivo de seu progresso, de sua pujança, não mais está à mostra. Vemos a decadência a cada canto, o abandono contínuo dos próprios públicos, o sucateamento das praças, das ruas, das avenidas.
Quem não se lembra da Fapidra de antigamente, com seus estandes de móveis, de carros, de tratores; com todos os restaurantes da cidade e região ali representados; os barracões de animais de todos os tipos: aves, as mais lindas e originais; os de cavalos de raça, maravilhosos, bem tratados; e o gado, raças conhecidas e desconhecidas do público, ali… enfileirados para a apreciação de todos e deleite das crianças. Hoje, a Fapidra resume-se a uma série de rodeios para um seleto público que aprecia esse esporte. Não mais é a feira para toda a família. Restringiu-se, encolheu. Deixou de ser o grande atrativo que reunia pessoas de toda a região promovendo muito lucro para o comércio local. Não se ouve falar em algum incentivo municipal para dar novo fôlego a esse evento. Ele foi murchando e, sem a atenção das autoridades municipais, que é necessário, está em seus estertores finais.
A cidade também teve seu aspecto mudado. A cidade limpa e convidativa, agradável e alegre, hoje apresenta-se taciturna, suja e em alguns pontos até repulsiva. O jardim da praça em frente à igreja católica, representa bem o descuido, o pouco caso que as autoridades têm tido com a cidade. Mesmo sabendo que grande parcela da população frequenta essa igreja, seja pelos seus cultos, seja pelas cerimônias de casamento, batizados, a praça em frente não recebeu mais atenção que os outros logradouros e está em pleno declínio.
O mato alto dominou os canteiros que ainda mostram alguns restos de bancos quebrados. Pisos soltos, quebrados, faltantes. Plantas sem poda, sem o mínimo cuidado brigam com o matagal que ali se instalou. O aspecto de abandono é constrangedor. Os banheiros são um caso à parte: imundos, quebrados, impossíveis de serem usados. Por isso muita gente, na hora do aperto usa a cobertura que deveria ser uma concha acústica, mas é a solução para um desaperto intestinal. E a administração pública que tem a obrigação de manter tudo bem cuidado, limpo, organizado, onde está?
A Dracena decadente de hoje pouco lembra a Dracena do passado. Não se sabe se estamos elegendo pessoas sem a mínima noção de administração, de organização, de limpeza ou se está havendo um desprezo intencional pela cidade. O que se vê é que a cidade está cada vez mais suja, mais feia, menos convidativa.
Talvez o que esteja acontecendo seja que estamos elegendo homens que não são conhecedores de limpeza; que nos seus lares não limpam, não arrumam nada e com isso não sabem como administrar uma cidade, que nada mais é que a extensão de uma casa. A ironia é que em casa não organizam, não limpam, não arrumam, deixando tudo para as mulheres. Depois pegam uma cidade para organizar, limpar, arrumar, sem a mínima experiência anterior.
O setor que cuida da cidade jamais deve ficar nas mãos de homens. Com raríssimas exceções, eles não sabem o que é isso. Dracena precisa acabar com o preconceito e começar a eleger mulheres para o executivo. Uma ou outra chega ao legislativo, mas o executivo nunca foi ocupado por uma mulher e, com isso, os vícios das administrações masculinas persistem e estão fazendo a cidade regredir a passos largos.
Thereza Pitta
e-mail: therezapitta@uol.com.br