Pode chorar que faz bem: fraco é quem não sente nada
Quem chora reconhece que é humano, que sentir não é feio, que colocar pra fora é curativo. Não há vergonha
Perdi a conta de vezes que vi pessoas chorando nos últimos meses. Ao vivo, no trabalho, às vezes quando estou andando na rua, quando paro para conversar e saber o que aconteceu, e se posso ajudar, as pessoas esboçam algumas frases, citam o pai ou os filhos, e começam a chorar. Sempre pedem desculpas, como se fosse algo errado se emocionar. Parece vergonha ter tanto coração. Parece que a gente treinou tanto pra ser máquina, acordar cedo, bater ponto, pagar conta, trânsito, cobrança. Ser duro é ser forte. Ser sensível é ser fraco. Eu acho completamente o contrário.
Já aconteceu muitas vezes. Na saída de um shopping, uma colega me abraçou e começou a soluçar. Me abraçou e deixou meu ombro todo molhado. Outro dia, em um restaurante, um pai tentava falar, mas engasgava e não conseguia dizer nada. Apenas começava as frases normalmente, mas terminava desafinando, não conseguia completar a história que queria me contar; acabou me mandando por email. Uma menina que trabalhou comigo também tinha esse problema; mãe solo, não podia começar a falar do filho que caia em lágrimas ali mesmo durante a conversa. Só conseguia dizer: “desculpa, desculpa”. Desculpa por quê?
Faz bem chorar. Pra isso que serve aqueles lencinhos umidos. É o pedágio do corpo, quando a emoção quer sair. Por vezes, são coisas que a gente tem guardado, que não consegue falar e só sai com soluço e lágrima e ranho. Por vezes, é melhor assim. Quem chora reconhece que é humano, que sentir não é feio, que colocar pra fora é curativo. Não há vergonha. Então, quando alguém me fala: “Choro muito assistindo filmes”, eu digo: “Obrigado! Eu choro muito também”. Pois virei um chorão depois que meus filhos nasceram.
Choro quando vejo fotos antigas. Choro quando minha filha dorme no meu colo. Choro com filmes sobre mulheres fortes. Minha filha está crescendo, então eu vejo as notícias de mulher sendo agredida e me dá um pavor terrível. Fico com medo de como o mundo vai tratar essa princesinha frágil, a coisa que mais amo na minha vida. Aí então, se vejo um filme bonito, um discurso emocionante falando sobre direito das mulheres, sobre a luta delas, sobre dar oportunidade para meninas, respeitar garotas e deixá-las ser quem puderem, choro mesmo de emoção. Choro de não conseguir falar. Choro de esconder o rosto com as duas mãos. Choro de imaginar mesmo que essa menina chegue longe, apesar do mundo estar indo pra não sei onde.
Pode chorar que faz bem. Fraco mesmo é quem não sente nada. Quem sente põe pra fora, e terá aqui sempre um ombro amigo.
Paulo Bessert – Jornalista