Parábola das folhas caídas (por Dr. André Luengo)

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Hoje, ao acordar pela manhã, percebi que haviam muitas folhas espalhadas por todo o quintal da minha casa. Criei coragem e no anonimato, me equipei com uma vassoura e uma pá apropriadas e passei a recolhê-las. Ao iniciar os trabalhos percebi que algumas folhas estavam úmidas, outras secas; algumas próximas e outras distantes. Para cada grupo de folhas eu optei por um padrão de coleta e ao final todas estavam recolhidas. Em seguida decidi que elas seriam depositadas em um ambiente que pudessem ser oportunamente aproveitadas e assim as guardei para essa futura transformação. Enquanto as recolhia, algumas caíram da pá e outras tantas foram sendo encontradas no trajeto. Todas elas, mesmo que individualmente, foram reconduzidas ou recolhidas pela pá e guardadas com as outras na caixa para a transformação. Durante a realização desse trabalho, me veio à mente que assim é a nossa vida. Há pessoas que ao encontrarem essas folhas caídas no dia a dia das suas vidas, não as veem como folhas, mas simplesmente as enxergam como sujeiras e nada fazem. Outras pessoas juntam essas folhas e literalmente as colocam debaixo do tapete. O fato é que algumas dessas pessoas não têm os instrumentos apropriados para essa coleta e não realizam um bom trabalho de recolha, deixando várias para trás. Há pessoas que se preocupam apenas com as folhas da frente de sua casa, aquelas que são vistas pelos outros. Estas, eles recolhem, mas as outras eles não fazem nada. Tem pessoas que se preocupam mais com as folhas que estão no quintal do seu vizinho ou nas ruas e ao invés de recolher as suas, ficam comentando sobre as folhas espalhadas nesses locais, mas na pratica nada fazem: não recolhem as suas, nem ajudam o vizinho e nem o Poder Público as recolherem dos outros locais. Durante o meu trabalho pude recordar que muitas dessas folhas são retiradas com água e vão para o esgoto. Outras são espalhadas com o uso de sopradores e chegam a invadir o espaço do vizinho. Mas também me recordei que há pessoas que conseguem convolar as folhas em adubo e dão vida ou fortalecem até outros seres. Mas tudo isso depende muito de nós. A vida é feita de opções, escolhas, mas também de imitações. Hoje posso perceber que inconscientemente eu me espelho nos meus Pais. É algo que flora naturalmente nos meus pensamentos, atitudes e ações. Não é algo direcionado ou forçado, mas simplesmente natural. Posso compreender que no quintal da minha casa ou no quintal da minha vida, vejo as folhas espalhadas e as enxergo não como sujeiras, mas como algo passível de transformações. Ainda consigo perceber que eles me ensinaram que os equipamentos necessários para fazer a recolha, são além da pá e da vassoura, a humildade e a seriedade. Quando faço a recolha das folhas da vida, procuro sempre a justiça e a lealdade. Na busca das folhas mais difíceis ou distantes, o comprometimento me faz alcançá-las. E quando chega o momento de depositar as folhas da vida, procuro sempre a caixa da transformação, aquela que produz o adubo da vida. Mas Eles também me ensinaram que embora a pá, a vassoura e a caixa tenham preço, a humildade, a seriedade, a justiça, a lealdade e o comprometimento são valores (não tem preço). Todos sabemos quanto a existência de pessoas que infelizmente utilizam instrumentos inadequados; que simplesmente enxergam as folhas como sujeiras e procuram limpar somente as que estão na frente da sua casa e as vezes colocando-as debaixo do tapete ou se preocupando apenas com as dos outros. Há pessoas que não aproveitam os obstáculos das folhas espalhadas para poder transformá-las em adubo para a sua vida e, simplesmente as evitam ou as jogam fora. Enfim, é uma pena que as folhas caídas em nosso quintal da vida sejam inobservadas por alguns e ignoradas por outros. Que nesta data do nascimento do Menino Jesus, possamos ter a consciência e a reflexão da necessidade de enxergar nas folhas caídas a oportunidade para a nossa transformação. Um Feliz Natal é um próspero Ano Novo, com muita saúde e paz. Felicidades. Abraços a todos.

Por Dr. André Luengo