Pais ausentes

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Pais ausentes

Cidinha Pascoaloto – Psicóloga – CRP 06/158174

Penso, mas não existo como penso.

(Freud)

Falar de família às vezes mexe em certas feridas, frustrações e pequenos rancores. Poderíamos dizer que uma das figuras mais complexas que surgem com maior frequência é a do “pai ausente”.

O pai ausente não é só o vazio físico de uma figura que não tivemos; às vezes, é também alguém que “mesmo estando” não soube ou não quis exercer o seu papel. É uma ausência psicológica capaz de criar em uma criança diversas feridas emocionais.

Às vezes, quando pedimos para alguém falar da sua família, não vacilam em dar mil histórias das suas mães, avós, tios, entretanto, na hora de falar do seu pai, o sorriso fica forçado e aparece o silêncio.

Crescer sem pai, sem mãe ou sem uma figura relevante na infância deixa cicatrizes profundas e provoca um   vazio no coração de uma criança que está aprendendo a construir o seu mundo. O cérebro de uma criança é um ávido processador de estímulos, e no seu dia a dia precisa de estímulos positivos para poder crescer de forma madura e segura.

À medida que crescemos é muito provável que ganhemos consciência de muitas outras coisas. O esforço que a mãe fez para suprir as carências do pai ausente é reconhecido.

Conforme amadurecemos nossos olhos se abrem ao mundo e passam a ler as entrelinhas. Os gigantes viram anões porque já conhecemos os seus segredos. Contudo, uma parte de nós continua sendo vulnerável a esse passado.

Porém, o vazio do pai ausente continua ali, e não importa se no presente você continua se relacionando com ele, ou se ele já se foi, ou se você se cala nas reuniões familiares e age como se o passado nunca tivesse existido.

É importante compreender que o pai ausente é um homem que não soube exercer o seu papel de pai, porque nunca entendeu muito bem o seu papel como pessoa.

É bem provável que não tivesse as habilidades pessoais adequadas, uma boa autoestima, equilíbrio interior que lhe permitisse ver seus erros, seus medos e suas próprias carências.

É sempre bom lembrar que um pai não é apenas o que dá a vida, e sim o que está presente.

Cidinha Pascoaloto