O local apropriado

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O LOCAL APROPRIADO

Está havendo uma tendência para que atividades que sempre tiveram um lugar apropriado para acontecer, agora sejam feitas em casa. Acredito que nem sempre isso seja eficaz.
Com a criação do ensino à distância muita gente, por economia de tempo e dinheiro, dá preferência por estudar em casa. Por melhor que pareça, a casa não oferece o ambiente de uma sala de aula. Na escola, enquanto o professor explana a matéria, surgem as perguntas dos alunos que enriquecem o assunto, isso porque os próprios alunos também colocam seus pontos de vista complementando o ensinamento. O ambiente é de silêncio, de compenetração, porque todos ali querem aprender. Não há barulho ou ruídos que atrapalhem e tudo se torna útil e interessante.
Já esse mesmo estudo feito em casa, sozinho, apresenta uma série de contratempos: a campainha que toca para o carteiro entregar a correspondência, o cachorro que descobriu um gato em cima do muro e late sem parar, a criança que caiu e raspou o joelho e berra chamando a mãe, o remédio que arde no machucado e a criança grita ainda mais, o vizinho que chama pra ver se está faltando água ou luz porque na casa dele está. A moça que está alegre e entoa uma canção que nos faz prestar a atenção à letra, o carro que passa correndo, a moto que acelera, o portão que bate, a vizinha que vai à janela e chama os filhos pra tomar banho, enfim, nossa casa n&atil de;o est á preparada para tarefas que exijam silêncio. Que diferença da sala de aula… ali reina o silêncio e os sons, que por ventura surjam, fazem parte da aula.
É como a oração: o lugar ideal para se rezar são os templos. Ali há o silêncio necessário para a concentração, para que se proceda a um monólogo íntimo com os seres celestiais que, presume-se, conheçam nossas aflições e possam nos prover dos pensamentos e da paz que buscamos. Não dá pra rezar em casa? Dá. Mas não é a mesma coisa. Não há clima pra recolhimento e orações. Os ruídos, as vozes não deixam que nos concentremos. Ao deitar, antes das orações, um mundo de pensamentos nos assaltam. São as coisas que deveríamos fazer e não deu tempo e o planejamento para o dia seguinte n os entor pece e, muitas vezes adormecemos para, no meio da noite acordarmos assustados porque não fizemos nossas orações.
Outra coisa que as pessoas estão tentando trazer para casa são os exercícios. Nas academias há uma porção de aparelhos em que exercitamos nossa musculatura, o que nos faz bem. Mas é comum enquanto utilizamos toda aquela aparelhagem, nos assaltar aquele pensamento maroto:”e se eu comprasse um ou dois aparelhos iguais a esses, não precisaria sair de casa para me exercitar e poderia fazê-lo a hora em que quisesse”.
Ledo engano. É comum haver nas casas bicicletas ergométricas que só servem para se pendurar cabides com roupa passada até que sejam colocadas nos guarda-roupas. São inúmeras as casas que ostentam vários aparelhos de ginástica que ninguém nem olha para eles, a não ser para retirá-los do caminho porque estão atrapalhando a passagem.
Não adianta, cada coisa em seu lugar e quando se pensa em trocar, não dá certo.
Thereza Pitta
até segunda-feira