Mídia Religiosa: A Indústria da Fé em Debate…
“O maior benefício que ao homem se pode conceder é conduzi-lo do erro para a verdade”. (São Tomás de Aquino)
Sérgio Barbosa
Pode-se afirmar que para uma análise em nível GLOCAL, ou seja, do Global para o Local, faz-se necessário uma pesquisa acadêmica de acordo com as metodologias científicas, porém, a proposta em pauta é mediada por meio de um Ensaio Jornalístico…
Ainda, este Ensaio tem como objetivo proporcionar uma Reflexão Crítica de acordo com as possibilidades existentes com relação ao tema da IE-IGREJA ELETRÔNICA em tempo de pós-globalização midiática…
A proposta em pauta busca apresentar uma visão Mundial, porém, tendo como paradigma os fatos envolvendo o contexto latino-americano, bem como, caracterizando os dados de acordo com os cenários históricos, político, social, econômico e ideológico da IE.
Cristianismo Primitivo
A proliferação e expansão da Igreja Eletrônica (IE) nestes meios, e suas consequências possibilitam obter elementos não apenas para uma compreensão global deste fenômeno.
Permitem a elaboração de alternativas para que seja possível uma análise sobre o assunto, gerando possibilidades diversas de interpretação sobre tais manifestações religiosas.
No cristianismo primitivo, a elaboração da teologia era feita no seio da comunidade, onde o modelo de comunicação era o fluxo múltiplo e horizontal. O pensamento teológico nascia não da interpretação de alguns ‘iluminados’, mas da vivência concreta do povo. Contrária a esta perspectiva histórica do cristianismo, a IE não apenas elimina a possibilidade de fluxo horizontal e múltiplo, como também estabelece o monopólio sobre o pensamento teológico, onde a “cúpula” manipula “à vontade de Deus” conforme seus interesses, desenvolvendo-a de forma vertical a um “rebanho” que, ingenuamente retribui com votos, audiência e finanças.
América Latina
O fenômeno da Igreja Eletrônica (IE) é algo que merece atenção ainda nos dias de hoje, embora o assunto tenha sido de certa forma esquecido pelos pesquisadores do tema. Ao mesmo tempo requer seriedade na abordagem dos critérios pré-estabelecidos pelos pesquisadores científicos que buscam equacionar perguntas e respostas sobre a importância da IE no Brasil e também em muitos países da América Latina.
A IE divulga uma teologia que legitima a ordem político-econômica ocidental, em que Deus é responsável pelas bênçãos (riquezas) de determinadas nações, conforme as afirmações de Jimmy Swaggart. Esta teologia tem implicações bastante sérias, sobretudo para a América Latina, pois qualquer mudança social tem que proceder do próprio Deus e assim, as iniciativas cristãs mais críticas que acontecem neste contexto são vistas como atos de rebeldia à vontade de Deus. A única possibilidade humana é, individualmente, aceitar-se a Jesus como salvador pessoal de sua alma.
Esta teologia é útil para todas as esferas de poder estabelecido, sejam quais forem esses poderes, tornando a religião um instrumento eficaz de manipulação e alienação, que esvazia os movimentos populares e mantém todos na contemplação estática da cruz.
É a forma de religião favorável às autoridades que permitiu aos tele evangelistas serem recebidos pelas mais diversas autoridades políticas na América Latina, sendo que, Swaggart foi recebido em audiência pelo ex-ditador do Chile, General Augusto Pinochet.
Se por um lado existem estruturas poderosas em todos os sentidos, administradas pelos empresários da religião que, na maioria das vezes, estão a serviço do sistema capitalista, encontrando respaldo junto aos que detém o poder, por outro lado, existem questões históricas e sociais que tornam possíveis a aceitação não só da IE, como também de outras Instituições afins que se estabeleceram na maioria dos países da América Latina.
Indústria Eletrônica da Fé
Os muitos escândalos patrocinados pelos tele-evangelistas da IE que explodiam como bombas atômicas na cabeça dos seus seguidores, principalmente nos EUA, acabaram resultando numa decadência numérica dos adeptos da igreja e queda acentuada nas contribuições financeiras que muitos faziam como forma de compensar seus pecados terrenos.
A indústria eletrônica da fé começava a desmoronar, primeiro na matriz, logo em seguida as agências internacionais de notícias espalham pelos quatro cantos do planeta os pecados cometidos pela liderança mundial da IE.
Os evangélicos receberam as notícias com surpresa e apreensão, principalmente as lideranças eclesiásticas que utilizavam os resultados positivos gerados pela IE para sua promoção pessoal e manipulação dos resultados como dividendos políticos-eclesiásticos em suas igrejas.
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(*) Jornalista diplomado, Mestre em CIÊNCIAS DA RELIGIÃO/Sociologia da Religião pelo PPGCR/UMESP (1.997) e professor universitário.