Em isolamento, devotos do candomblé festejam o orixá da cura e pedem saúde ao mundo para enfrentar a pandemia da Covid-19

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Para os seguidores da religião, a divindade, que atende pelo nome de Omolu, tem o poder de levar para longe do planeta qualquer enfermidade.

Neste período de dor, quem poderá salvar tanta gente? Além da medicina e da ciência, a quem recorrer diante de tantas incertezas sobre a própria saúde? Para os seguidores do candomblé, o herói veste palha-da-costa da cabeça aos pés, carrega uma lança coberta de taliscas de dendezeiro, tem o poder de levar para longe do planeta qualquer enfermidade e atende pelo nome de Omulu, o orixá da cura.

A divindade, sem dúvida, tem sido a mais evocada desde que a pandemia do novo coronavírus se tornou uma ameaça. Mas há quem esteja fazendo muito mais, mesmo com as atividades dos terreiros suspensas pelos decretos que proíbem aglomerações de pessoas.

Prova disso é o Festejo de Olubajé (o banquete dos reis) realizado tradicionalmente no mês de agosto, em todo o país. A festa é feita para Omolu, Nanã e toda família Carijébi, a família da palha. No candomblé, esses orixás representam toda a movimentação do mundo.

Mesa das comidas onde é feita a reza aos orixás  — Foto: 7'Kali

Mesa das comidas onde é feita a reza aos orixás — Foto: 7’Kali

Em Presidente Prudente (SP), por conta do isolamento social, o festejo neste domingo (30) será um pouco diferente. A comemoração, que geralmente é aberta ao público, vai ser celebrada somente pelos filhos de santo da Ilê Asé Ofá Omím Orum Alaketu, que significa Casa das Forças das Flechas das Águas do Céu do Rei de Ketu.

O babalorixá Alex de Logun Ede contou ao G1 que o festejo tem o intuito de pedir saúde ao mundo inteiro. Essa celebração sempre foi feita, mas ficou ainda mais necessária neste período pandêmico.

“Nessa pandemia, os terreiros se reuniram para fazer o Olubajé interno, por conta da aglomeração, mas com o intuito de salvar o mundo. Vamos pedir a Omolu que nos traga a bênção da saúde e que leve as pragas do mundo para longe. Durante o mês inteiro de agosto, nós evocamos fervorosamente Omulu, rezando por saúde, para que a pandemia vá embora”, disse.

Mesa de comidas onde é feita a reza aos orixás — Foto: 7'Kali

Mesa de comidas onde é feita a reza aos orixás — Foto: 7’Kali

Durante o festejo, os participantes oferecem comidas aos orixás. O prato preferido de Omolu é pipoca.

“Ele adora pipoca e feijão preto. Essa celebração não ocorre somente na pandemia, mas neste ano tornou-se ainda mais importante. Omolu já designou para nós que esse período já está passando, que de agosto em diante vai diminuir todo esse sofrimento. A cura vai ser descoberta. Nossos ancestrais pediram muito a Omolu que curasse a febre amarela, e assim ele fez”, contou o babalorixá ao G1.

No festejo, as comidas também são ofertadas a todos os participantes na folha de mamona, conforme contou ao G1 o babalorixá Flávio de Odé.

“São montadas trouxinhas com um pouco de cada comida, onde cada convidado come o que gosta. Depois, a folha é utilizada pela própria pessoa para puxar toda a negatividade de seu corpo. A casa é toda enfeitada com fios de pipoca feitos à mão, esteiras de palha, tudo para a chegada do rei Omolu e sua família”, falou Flávio de Odé.

Omolu, o orixá da cura  — Foto: I.M Fotografia

Omolu, o orixá da cura — Foto: I.M Fotografia

Enquanto os santos dançam, as pessoas pedem por saúde, por prosperidade e para que os caminhos sejam abertos.

O ritual, neste ano, não poderia deixar de acontecer, e será feito internamente, somente com os filhos de santo. Não será aberto ao público. Geralmente, o festejo reúne em torno de 500 pessoas, mas isso não vai ser possível neste período de isolamento social.

Com medidas de segurança, distanciamento e higiene, cerca de 200 filhos de santo vão se reunir para celebrar Omolu.

Depois do festejo, os filhos de santo distribuem comida aos moradores de rua da cidade, findando a celebração.

“Omolu é responsável por toda nossa saúde e nosso intuito é celebrá-lo. É responsável por aquilo que morre e se transforma. O momento que estamos vivendo é uma grande oportunidade de melhoria. Essas coisas acontecem quando o homem esquece de valores importantes como Deus, espiritualidade, família, solidariedade e amor, vez por outra surge uma situação como essa, ao meu ver, para fazer o homem se refrear “, enfatizou o babalorixá Alex de Logun Ede ao G1.

Babalorixás Alex de Logun Ede e Flavio de Odé — Foto: Cedida

Babalorixás Alex de Logun Ede e Flavio de Odé — Foto: Cedida

Casa de Axé decorada com fios de pipocas feitos à mão — Foto: 7'Kali

Casa de Axé decorada com fios de pipocas feitos à mão — Foto: 7’Kali

Orixás Nanã e Omolu, da família da palha  — Foto: I.M Fotografia

Orixás Nanã e Omolu, da família da palha — Foto: I.M Fotografia

Comidas são servidas na folha de mamona — Foto: 7'Kali

Comidas são servidas na folha de mamona — Foto: 7’Kali

Festejo a Omolu é realizado tradicionalmente em agosto  — Foto: I.M Fotografia

Festejo a Omolu é realizado tradicionalmente em agosto — Foto: I.M Fotografia

Festejo a Omolu é realizado tradicionalmente em agosto  — Foto: I.M Fotografia

Festejo a Omolu é realizado tradicionalmente em agosto — Foto: I.M Fotografia

Fonte: G1