E agora, José? (por Vladimir de Mattos)

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E AGORA, JOSÉ?

Em meio a tantas lágrimas causadas por inestimáveis e dolorosas perdas de amigos e entes queridos, uma pausa reflexiva com um poema de Carlos Drummond de Andrade…

“E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
(…)

José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho do mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?”

(Poema “José”, de Carlos Drummond de Andrade, publicado originalmente em 1942 na coletânea “Poesias”)

vladimirdemattos@hotmail.com