Jovem de 18 anos foi atendida com sintomas leves e segue isolada em casa com família; resultado sairá em até 10 dias.
A Secretaria Municipal de Saúde confirmou, nesta terça-feira (4), que Bauru possui um caso suspeito de coronavírus e a paciente foi orientada ao isolamento social em casa. O dado oficial deve ser computado na tarde desta quarta (5) pelo Ministério da Saúde, que até ontem registrava 13 casos suspeitos e 16 descartados em todo o País.
O exame que confirmará ou descartará a suspeita em Bauru é feito pelo Instituto Adolfo Lutz e o resultado deve sair em até 10 dias.
Trata-se de uma jovem de 18 anos, a mesma citada em reportagem do JC nesta segunda (3), quando o hospital particular que ela procurou se posicionou sobre o atendimento.
A garota retornou da China há cerca de 15 dias e apresentou o início dos sintomas no último domingo (2). A identificação é mantida em sigilo pelo poder público.
Segundo a secretaria, ela teve febre baixa (37,8 graus), tosse e coriza. Após o atendimento na unidade médica, a paciente foi liberada para seguir para o isolamento social até a remissão dos sintomas.
Tanto ela quanto os pais dela receberam atestados médicos para permanecerem em casa e foram orientados a não frequentarem aglomerações.
O tema tem gerado manifestações na internet e informações falsas têm sido propagadas. Para esclarecer o assunto, o JC entrevistou Ezequiel Santos, diretor da Vigilância Epidemiológica de Bauru.
JC – Pacientes suspeitos com quadros considerados leves têm sido liberados em todo o País, o que diz o protocolo?
Ezequiel – O protocolo do coronavírus é semelhante ao da Influenza, é recomendada a internação quando o paciente tem a Síndrome Aguda Grave, apresentando, por exemplo, falta de ar ou necessidade de uso de suporte ventilatório ou de oxigênio, além dos outros sintomas. A paciente em questão entrou com quadro de síndrome gripal leve e, nestes casos, a internação não é aconselhável. Trata-se de um protocolo preconizado pelo Ministério da Saúde e Organização Mundial de Saúde.
JC – Qual seria o problema na internação de pacientes com quadro leve, porém suspeito para o coronavírus?
Ezequiel – Você acaba expondo a própria pessoa, porque há mais risco de ela adquirir outras infecções no hospital. Além do mais, a nossa Constituição não prevê o isolamento compulsório. Só se interna com indicação médica, e na síndrome gripal leve não há essa indicação. Se isso acontecesse, seria fazer dos pacientes prisioneiros. E estaríamos colocando as pessoas em risco.
JC – Por que é recomendado o isolamento social e não a quarentena?
Ezequiel – Outros países como a França, Estados Unidos e Canadá só colocam em quarentena as pessoas que estavam em Wuhan, epicentro da doença. As demais não ficam em quarentena, apenas isolamento. O Brasil quer instituir para os brasileiros que estão em Wuhan, mas não há previsão legal ainda. O que fazemos é uma orientação para que a pessoa permaneça em casa e evite aglomerações até que haja remissão dos sintomas,. Não podemos proibir ninguém de ir e vir.
JC – E quanto à transmissão? Quais as formas e períodos?
Ezequiel – Conhecemos pouco sobre o coronavírus, mas acreditamos que a transmissão possa acontecer entre 7 a 8 dias, após o início dos sintomas. Aliás, não existe a transmissão no período de incubação. Ela só é possível após o início dos sintomas, pois é transmitida por secreções e este é momento em que o vírus começa a se multiplicar e a ser expelido pelas vias superiores.
JC – Se confirmado o coronavírus na paciente em Bauru, que novas medidas serão adotadas?
Ezequiel – Será um caso importado confirmado, não autóctone. Os cuidados não mudam, mas levantaremos todas as pessoas que ela teve contato a partir do início dos sintomas, além dos pais que já estão com atestado. Então, passaremos a monitorar se essas pessoas também ficarão doentes.
JC – Quantas pessoas vão e voltam da China para Bauru em média?
Ezequiel – Não tenho um dado local, mas são muitas. No Estado de São Paulo, por dia, 240 pessoas vão e voltam da China, usando o aeroporto de São Paulo.
JC – Você acredita que o bauruense tem mais motivos para se preocupar com o H1N1 do que com o coronavírus. Por quê?
Ezequiel – Em 2018, tivemos 20% de letalidade do H1N1 na cidade. Já o coronavírus tem apresentado índice de 2% de letalidade. E não houve morte no Brasil, por enquanto. Pessoas idosas e portadoras de doenças respiratórias, diabetes, hipertensão, assim como no H1N1, são as mais afetadas.
JC – Como se proteger do coronavírus?
Ezequiel – É uma regra que vale para qualquer doença respiratória. Evitar grandes aglomerações, lavar bem as mãos, com água e sabão de preferência (ou álcool gel), sempre que voltar da rua ou pegar em dinheiro. Abrir janelas para circulação do ar também é recomendável. Ao tossir e espirrar, devemos colocar o cotovelo na frente do nariz ou um lenço de papel.
Manifestações de ódio podem ajudar subnotificação
O diretor da Vigilância Epidemiológica alerta que críticas e manifestações de ódio na internet podem ajudar na possível subnotificação de casos.
“Se ficar doente, a pessoa pode acabar desistindo de procurar um médico por medo das reações e preconceito”, cita. A Ouvidoria da prefeitura recebeu, nas últimas semanas, pedidos para que fosse impedida a entrada de viajantes da China na cidade.
“É um momento em que as pessoas precisam ter compaixão umas com as outras. Todos merecem respeito, é uma doença séria. A pessoa por si só já fica fragilizada e, amanhã, pode ser qualquer um de nós, ou um familiar nosso nessa situação”, finaliza.
Fonte: https://www.jcnet.com.br/