O PERÍODO DE DESENVOLVIMENTO DE UMA CRIANÇA AOS 6 ANOS DE IDADE É CARACTERIZADO POR CONTRADIÇÕES. AO MESMO TEMPO QUE GANHOU AUTONOMIA, ELA AINDA VAI SENTIR A INSEGURANÇA AO EXPERIMENTAR “O GRANDE MUNDO” SEM O CONFORTO CONSTANTE DA PRESENÇA DOS PAIS. ENQUANTO CADA VEZ MAIS TEM EXPERIÊNCIAS ESCOLARES, FESTAS DE ANIVERSÁRIO E OUTRAS ATIVIDADES SEM UM DOS PAIS, ELA PODE QUERER E PRECISAR DE MAIS ATENÇÃO E O CONFORTO DE CASA.
Durante esta fase a criança está experimentando uma maior independência e flexionando competências e habilidades recém-descobertas. Ao mesmo tempo, ainda é apenas uma criança pequena capaz de tornar-se facilmente frustrada e chateada em situações de conflitos e decepções. Por estar mais consciente das emoções- tanto a sua própria, bem como as dos outros, aos seis anos pode experimentar uma confusão de sentimentos estando mais sujeita a problemas de comportamento.
A seguir algumas características comuns nesta idade:
– Sabe tudo e quer tudo; e quer fazer tudo à sua maneira.
– É dominadora, obstinada e agressiva.
– Emocionalmente é excitável e desafiadora.
– Eticamente é pouco apta, devido à sua fase evolutiva, que lhe imprime a tentação de enganar, o que é mais notório no campo dos jogos.
– Aceita a culpa com mais facilidade em coisas grandes do que pequenas.
– Anseia o elogio e a aprovação
– Reage lenta ou negativamente quanto a uma ordem, mas passado um bocado de tempo talvez a ponha em prática espontaneamente, como se se tratasse de ideia sua.
– Possui dificuldade para decidir, vacila entre duas possibilidades.
– Gosta de possuir grande número de coisas mas não as cuida.
– Possui um débil sentido da propriedade alheia, de modo que pega no que vê e deseja, independentemente de quem seja o proprietário.
– Tem certa irresponsabilidade.
– Está em plena adaptação a dois mundos: o de sua casa que lhe exige novas responsabilidades e o do colégio com todas as suas estruturas, regras, etc.
– Começa a ver-se e a conhecer-se a si própria; assim firma as bases para a sua autovalorização que culminará e amadurecerá nos 7 e 8 anos.
– Capta mais coisas do que o que na realidade pode manejar.
– Toca, mexe e explora todos os materiais.
– As suas manifestações tensionais ou descargas chegam por vezes a um ponto limite, por vezes levando a perda de controle.
– Além destas manifestações limites, dão-se também descargas de energia por outras vias: agitação, roer as unhas, etc.
– Deseja e precisa de ser a primeira, a mais querida.
– Agrada-lhe contar histórias exageradas.
– Tem medo dos ruídos, essencialmente aos elementos da natureza (chuva, trovão) assim como aos seres humanos e fantasmas.
– Adora o elogio e não tolera a crítica.
– É extremamente dominante em relação às coisas que lhe pertencem.
Este é o período em que a criança começa a perceber que não é mais o centro do universo, e se dá conta das distinções entre ela e seus genitores, ela ingressa em uma das várias fases de passagem em sua vida, talvez a mais importante, porque definirá seu comportamento na idade adulta, principalmente o referente à sua vida sexual. Geralmente, a criança sente uma forte atração pelo sexo oposto – a menina pelo pai, o menino pela mãe – e hostiliza, ao mesmo tempo em que ama, seu adversário – no caso da garota, a figura materna (ou substituta); no do garoto, a imagem paterna (ou substituto) -, sentimentos conflitantes que configuram o Complexo de Édipo. “É muito importante que os pais entendam que é natural que isso aconteça, a criança quer se sentir segura de que ela é amada, de que é especial”. A preferência da criança por um dos pais representa a necessidade que sente de ter a mesma atenção que seu “concorrente do mesmo sexo” recebe – no caso o parceiro ou parceira de seus pais.
Como muitas vezes vê as coisas como preto e branco e expressa opiniões fortes sobre as coisas, a criança de seis anos pode ir de euforia sobre algo a infelicidade absoluta, se algo não seguir o seu caminho. E se continuamente for exposta a episódios de exacerbado conflito interparental apresenta maior reatividade psicofisiológica, comportamental, cognitiva e emocional. Esses elevados índices de reatividade estão associados à potencialização e ao acúmulo de situações de relativo risco para o desenvolvimento de problemas de ajustamento das crianças à separação. Uma trajetória desajustada após a separação dos pais, unida a variáveis mediadoras da própria criança e aos recursos ambientais disponíveis para ela, poderá desaguar num padrão comportamental de interações com os pais e, posteriormente, com outras pessoas, distinto do “normativo”. Estudos mostram que crianças envolvidas em separações altamente conflituosas têm de duas a cinco vezes maior probabilidade de apresentar problemas comportamentais e desregulação emocional, quando comparadas com amostras normativas. Os distúrbios de externalização contemplam, por seu turno, comportamentos que são encarados como problemáticos, tais como condutas aditivas, impulsividade, hiperatividade ou comportamentos antissociais.
Diante de tatos conflitos, é importante estarmos atentos quando a criança apresenta distúrbios comportamentais. É certo que quando isso ocorre “ela está tentando dizer com a habilidade que tem (ou não) que falta algo em sua vida ou buscando resolver a sua maneira (com o repertório interno que possui) um determinado problema”. Alguns comportamentos de oposição e “desonestos” são esperados no desenvolvimento normal das crianças aos seis anos. Se o problema é ocasional deve ser corrigido com a orientação dos pais, para que a criança não adote a atitude errada como padrão. Caso contrário é necessário o acompanhamento com um especialista. Os terapeutas são um grande apoio. Lembre-se, as crianças podem não entender seu próprio comportamento e isso pode fazê-las se sentir fora de controle e tão infeliz como aqueles que têm de lidar com seus comportamentos desafiantes.
Cidinha Pascoaloto