Dono de universidade e filho usavam dinheiro de fraude no Fies para comprar jatos, imóveis e carros de luxo, diz PF

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José Fernando Pinto da Costa, foi preso em São Paulo, e o filho dele, no aeroporto de Guarulhos (SP). Eles são apontados pela PF como chefes do esquema que fraudava concessão do Fundo de Financiamento Estudantil.

PF deflagra operação contra desvio de verba do Fies em Fernandópolis — Foto: Polícia Federal/Divulgação

O dono da Universidade Brasil, José Fernando Pinto Costa, de 63 anos, e o filho dele, presos nesta terça-feira (3) durante operação da Policia Federal, usavam o dinheiro desviado para comprar imóveis, helicópteros, jatinhos, aviões e dezenas de veículos de luxo, de acordo com o delegado da Polícia Federal Cristiano Pádua.

Segundo investigações da PF, pai e filho são suspeitos de participar de um esquema de fraude na concessão do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e também na comercialização de vagas e transferências de alunos do exterior, principalmente Paraguai e Bolívia, para o curso de medicina em Fernandópolis (SP).

Bolsas do Programa Universidade para Todos (Prouni) e fraudes relacionadas a cursos de complementação do exame Revalida também estão sob investigação da PF.

O empresário e engenheiro José Fernando Pinto da Costa, que também é o reitor da instituição, foi preso em São Paulo. O filho dele foi preso no aeroporto de Guarulhos (SP). Eles são apontados pela PF como chefes do esquema.

“O dinheiro que eles desviavam, além de afetar a qualidade do ensino e tirar vagas de alunos que realmente mereciam, também era utilizado em benefício próprio. Eles compravam helicópteros, jatos e faziam diversas viagens. Enquanto isso, registros comprovam que na faculdade muitas vezes faltavam itens básicos como papel higiênico e toner para impressoras”, afirma Pádua.

Estimativas da Polícia Federal indicam que, nos últimos cinco anos, aproximadamente R$ 500 milhões do Fies e Prouni foram concedidos fraudulentamente.

Dos 22 mandados de prisão expedidos pela Justiça Federal, em Jales, 19 pessoas foram presas. Quatro suspeitos são considerados foragidos.

Entre os presos estão funcionários da universidade e o presidente e vice do Fernandópolis Futebol Clube. A investigação não terminou e vai continuar apurando a participação de pessoas no esquema e também aqueles que compraram vagas.

Presidente do Fernandópolis Futebol Clube foi preso em Operação da PF contra fraude no Fies — Foto: Federação Paulista de Futebol/Divulgação

A assessoria da Universidade Brasil informou que está ciente da operação da Polícia Federal e que, por enquanto, não vai se pronunciar sobre o assunto.

Operação

As investigações começaram no início do ano após a PF receber informações de que estariam ocorrendo irregularidades no campus de um curso de medicina em Fernandópolis.

De acordo com a PF, vagas para ingresso, transferência e financiamentos Fies para o curso de medicina estariam sendo negociados por até R$ 120 mil por aluno.

O esquema contava com “assessorias educacionais”, que vendiam vagas no curso de medicina, financiamentos Fies e Prouni, além de fraudes em cursos relacionados ao Exame Revalida.

De acordo com a PF, essas assessorias tinham o apoio dos donos e toda a estrutura administrativa da universidade para negociar centenas de vagas para alunos, que aceitaram pagar pelas fraudes em troca de matrícula no curso de medicina.

Como resultado da investigação, a Operação Vagatomia foi deflagrada na manhã desta terça-feira (3).

Dinheiro apreendido na casa de um dos investigados na operação Vagatomia, da Polícia Federal em Jales — Foto: Polícia Federal/Divulgação

Ao todo, 250 policiais federais foram às ruas para cumprir 77 mandados nas cidades de Fernandópolis, São Paulo, São José do Rio Preto (SP), Santos (SP), Presidente Prudente (SP), São Bernardo do Campo (SP), Porto Feliz (SP), Meridiano (SP), Murutinga do Sul (SP), São João das Duas Pontes (SP) e Água Boa (MT).

Entre os mandados expedidos estão 11 prisões preventivas, 11 prisões temporárias, 45 ordens de busca e apreensão e 10 medidas cautelares (alternativas à prisão). A Justiça Federal também determinou o bloqueio de bens e valores dos investigados até o valor de R$ 250 milhões.

A Polícia Federal informou que durante a operação alguns investigados tentaram fugir no momento das prisões e outros jogaram celulares de prédios, antes da entrada dos policiais. Os celulares foram recuperados e os foragidos foram localizados e presos.

O material apreendido será encaminhado para a PF em Jales, onde passará por análise no interesse das investigações em curso.

São José do Rio Preto

Em São José do Rio Preto (SP), equipes da Polícia Federal cumpriram mandados de busca e apreensão e de prisão em sete endereços. Ao todo, três pessoas foram presas. Entre elas, dois empresários e a mulher de um deles, que agia como laranja.

Um dos mandados foi cumprido em uma empresa localizada no bairro São Manoel. Investigações da PF indicam que o local funcionava com uma espécie de assessoria estudantil que intermediava o contato de estudantes com as universidades.

De acordo com a Polícia Federal, os universitários se formavam no exterior, especificamente no Paraguai e na Bolívia, mas pagavam uma taxa para burlar o Revalida, exame obrigatório para quem se formou em outro país e deseja exercer a profissão no Brasil.

A TV TEM entrou em contato com os responsáveis, mas não conseguiu retorno. O dono da empresa mora em um condomínio de luxo, mas foi preso em São Paulo.

Policiais federais fizeram buscas em campus da universidade e casas de investigados em Fernandópolis — Foto: Polícia Federal/Divulgação

Medalha honrosa

O dono e reitor da Universidade Brasil José Fernando Pinto da Costa, preso nesta terça-feira, foi homenageado, em 2018, pelo Ministério da Saúde com a medalha de mérito Oswaldo Cruz.

A medalha é um reconhecimento pela atuação destacada no campo das atividades científicas, educacionais, culturais e administrativas pelos resultados benéficos à saúde de milhares de brasileiros.

A ação honrosa contou com a participação do então ministro da Saúde, Ricardo Barros, no dia 27 de fevereiro.

Fonte: G1 Rio Preto e Araçatuba